segunda-feira, 5 de outubro de 2009

'Hail Mary Pass' uma decisão muito difícil

Para quem não conhece, 'Hail Mary Pass' é uma expressão utilizada no futebol americano para caracterizar a jogada final de uma partida, cuja decisão precisa desesperadamente de um passe para touchdown, para mudar o resultado do jogo e levar o estádio a loucura. Pois foi exatamente isso que eu precisava para ir ao show do AC/DC. Uma única jogada nos segundos finais para me consagrar definitivamente. E eu faço questão de contar essa história pra vocês. O quão difícil foi a tarefa de encontrar ingressos de pista disponíveis para o show do AC/DC. Tão complicado e desgastante como procurar uma agulha no palheiro.

Tudo começa na quinta-feira ás 00:00hs quando a Ticketmaster libera as vendas on-line para os ingressos. Uma luz acesa, um computador ligado, e uma determinação incansável na tentativa de garantir minha felicidade. Mal sabia eu, que a felicidade se transformaria num show de horror particular, onde a única diversão seria a minha cara de palhaço diante dos problemas intermitentes do site da Tickemaster. Foram 4 horas de fracassadas tentativas desesperadas de conexão, sem nenhum ingresso para animar essa festa do pijama da madrugada, e nenhuma alma insana como a minha acorda para ouvir os meus gritos do silêncio, e ainda tive que limpar a bagunça on line que essa farra me deixou no dia seguinte.

As notícias na manhã seguinte eram as piores possíveis. Acompanhando a movimentação pelo Twitter, descobri que as filas nos postos de venda, pareciam peregrinação de fanáticos religiosos a cidade sagrada de Meca, e os telefones indisponíveis da Ticketmaster estavam mais congestionados que a 23 de Maio numa sexta-feira chuvosa. A fila na porta do Credicard Hall parecia o INSS, e o tempo padrão de espera por um ingresso não era inferior a 4 horas. O universo inteiro conspirava contra, para desespero de Paulo Coelho, e Jesus Cristo estava a mais de 8 horas procurando ingressos na mão de cambista.

Esperando por um milagre, e rezando desesperadamente para os deuses do rock and roll, consegui completar uma ligação no site da Ticketmaster ás 15:30hs, onde recebi a triste e fatídica notícia de que não haviam mais ingressos de pista disponíveis. Como assim ? 14 horas após o início das vendas não haviam mais ingressos de pista ? Meu descrédito, e minha desilusão me remetiam a várias perguntas cretinas a funcionária da Ticketmaster, como se abriria uma nova data para o show, ou se algum funcionário teria ingressos particulares para repassar. Coisa de sujeito desesperado, pronto para qualquer desatino em nome do rock and roll.

Voltei pra festa do pijama as 19:00hs, dessa vez conectado no Twitter, no MSN e no meu celular buscando todo e qualquer tipo de contato que me levasse ao paraíso. O procedimento básico era atualizar a chamada do site da Ticketmaster a cada tentiva de compra dos ingressos. Mais uma vez em vão. A essa altura, eu já sabia que as filas nos postos de venda duplicavam como um vírus, e quase ninguém tinha história pra contar. Á beira do conformismo e cansado pela perda da insanidade, comecei a pensar seriamente a comprar ingressos de arquibancada. Só restavam poucos ingressos de arquibancada no site do ticketmaster, e eu tinha que tomar logo minha decisão. Decidi que não largaria o osso tão facilmente. Não cheguei até aqui para ver o Angus Young sair da locomotiva sentado no anel superior do Morumbi, vendo a catarse coletiva lá em baixo.

Perdido nesse universo de problemas, e escravo dessa tecnologia barata, não me restava outra alternativa a não ser procurar o ser mais desprezível dos seres, o pirata do entretenimento, o larápio do show bussiness, o mestre dos desesperados, o maldito cambista dos infernos. Aquele que compra tudo aquilo que você não consegue, e ainda inflaciona os preços estratosféricos dos ingressos no Brasil. Em conversas com a minha amiga Neli, descobri até site de cambista, que para o meu espanto constatei que o banditismo agora é digital também. Os ingressos da arquibancada azul, onde estão os camarotes do Morumbi, custavam inacreditáveis R$ 1.300,00 reais na loja virtual dos piratas, e pista eram impressionantes R$ 500,00 reais para sonhar.

Com a ajuda da minha amiga Neli, descobri que era na panela velha da Avenida Nove de Julho em São José dos Campos, é que estava a boa comida, mas o preço era mais salgado do que o bacalhal do Rodofão na véspera do Natal. Na Lloyds Turismo, estava escondido o Santo Graal, encontrei a cidade perdida de Atlântida, descobri os segredos da biblioteca sagrada do Vaticano, comprei a minha passagem para a 'Highway to Hell'. Haviam restos mortais de um ingresso de pista no pacote turístico do rock and roll. E ali eu deixei os míseros R$ 480,00 reais.

Nos últimos segundos do jogo, com o placar contra, a classificação quase perdida, e a torcida chorando desesperada precisando de uma única jogada enxerguei, nos últimos 2 segundos da possível derrota, meu companheiro esperando o passe para touchdown. Disparei o 'Hail Mary Pass' de 480 jardas que nos levará ao Super Bowl do Rock And Roll no colossal gramado do estádio do Morumbi no dia 27 de Novembro de 2009. Um dia que irá entrar para história.

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