terça-feira, 30 de março de 2010

O melhor dos anos 90

Incrível! Parece que foi ontem. Eu tinha 16 anos quando descobri o frescor dos anos 90. Foi a época em que comecei a sair e descobrir a juventude. Foi tempo de derrubar presidente, onde os jovens tinham ideais e eram politicamente ativos, que se preocupavam realmente com o seu futuro e o que pensava a sociedade. O mundo era menos fútil, e o pensamento fazia sentido. Foi um tempo de crise, de grandes transformações nesse país, quando um presidente manchou o seu colarinho branco com com o sinto de segurança de um Fiat Elba na casa da Dinda. Nesse tempo, meu dinheiro estava "congelado" na poupança, e pessoas pobres com dinheiro na mão viraram barões do café da noite para o dia.

Foi a época em que meus discos de vinil do Pink Floyd já não eram mais a bolacha divina que acariciava meus ouvidos, pois um tal de CD que cabia na palma da mão era a novidade da década. Telefone celular era patrimônio de milionário, e aquele tijolo da Motorola pendurado na cintura abria conta em qualquer banco da Federação. Garoto da minha idade começava a descobrir os precursores da música eletrônica, o doce veneno de um lança perfume nos "bailinhos" de finais de semana, e o maior medo da população era pegar AIDS de um sujeito magricela que passava do outro lado da rua, pois a doença matava mais que bala de "revórvi".

Pintei a cara de palhaço pedindo a cabeça do Fernandinho lá em Brasília, e tinha a inocência de achar que o meu grito de revolta tinha derrubado o presidente em praça pública, mas na verdade hoje sabemos que só existiu "Impeachment" porque o sujeito governava sozinho e não tinha força política no Congresso, mas isso é outra história. Mas mesmo assim sinto orgulho de ser exercido meu papel de cidadão politicamente ativo.

Conheci um tal de New Order, um tal de Depeche Mode e uns caras esquisitos que andavam de patins no palco e tinham nome de sociedade na banda. Nessa época a gente se acabava sob jogos de luzes, máquinas de fumaça e efeitos de raio laser, e o tal do DJ era um sujeito comum que sabia um pouco mais de música e arranhava discos de vinil como ninguém.

Vi o Brasil ganhar uma copa do Mundo depois de 20 anos de espera, numa avenida lotada de pessoas que realmente adoravam a sua seleção, e não faziam a Copa do Mundo apenas um evento para levantar dinheiro em bares e boates, cuja prefeitura da minha cidade desceu um caminhão de cerveja pra turba emocionada, que chorando em coro gritava "é campeão!".

Minha geração cresceu e infelizmente hoje não soube dar aos filhos o mesmo caminho que os nossos pais nos deram. O respeito pelos mais velhos foi substituído pela petulância juvenil, e o conhecimento deu lugar a cultura inútil dos canais de televisão. As brincadeiras de rua foram substituídas pelos gigabytes dos playstations do mundo digital, e os bailinhos de finais de semana foram trocados pelas "Raves" intermináveis em latifúndios suburbanos regados a balas do amor. Os ídolos de hoje são o Tiesto e o Fat Boy Slim, e o meu presidente é analfabeto e mentiroso graças a alienação da geração Web. Sua insiginificância social passam pelas festas que frequentam e pelos shoppings que veneram. O doce gosto do lança perfume de hoje tem a cara do Mickey, o cigarrinho de palha da garotada é mais natural do que o do meu avô, e a AIDS hoje na cabeçinha fraca dos meninos da classe média é mais fácil do que uma gripe, pois seu rémedio tem nome de festa, é coquetel.

Depois de 20 anos de avanço tecnológico, emancipação política, desunião e banalização da família, o futuro de nossos filhos está ameaçado pelos vícios que nós mesmos deixamos ser criados, por nossa omissão e nossa falta de bom senso na hora de cobrar, educar e encaminhar, e que conheceram um mundo muito mais fácil do que o nosso, e estão dando um caminho muito mais fútil e tortuoso do que aquele que nós tentamos construir, sem motivação política, social e cultural.

O que acontece no mundo de hoje, é reflexo do que nós plantamos no que achávamos ser o melhor dos anos 90. Isso me faz lembrar a frase do Cazuza quando dizia que seus heróis morreram de overdose, e os seus inimigos estão no poder.

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